Grotesco é um termo cunhado em pleno Renascimento, do italiano grotta (gruta ou pequena caverna), seguido do sufixo formador de adjetivo –esco, o grottesco. Também aparece como crotesque (no caso, a derivação é do latim crypta que, por sua vez, vem do grego kryptós) em francês, em autores como François Rabelais e Montaigne.
A palavra inaugural do estilo grotesco surge a partir das escavações feitas em 1480, em Roma, no local onde hoje é o parque de Oppius. Ali, sob restos das termas de Trajano e das de Titus, descobriu-se nas ruínas da Domus Aurea (o palácio do imperador romano Nero, 58-64 aC, que o havia mandado construir após o grande incêncio que consumiu boa parte de Roma em 64 d.C.) uma espécie de pintura ornamental totalmente insólita em relação à imagem que se tinha do classicismo romano.
Nesses espaços subterrâneos reabertos depois de quase mil e quinhentos anos foram descobertas imagens, figuras, estátuas compostas de pessoas ou deidades metade gente e metade animal ou metade figura mítica.
Enquanto os estudiosos tentavam decifrar o quebra-cabeças desses escombros, os artistas do Renascimento se punham a descobrir os afrescos pintados principalmente pelo pintor Fabullus nas paredes da Domus Aurea. Desceram às grutas Gionani da Udine, Rafael, Pinturicchio e outros. Viram nos desenhos de Fabullus um novo vocabulário a ser adaptado ao ornamento. A visita às grutas tornou-se uma verdadeira descida dantesca, em que um novo conhecimento se fazia a partir do estranho, devido ao caráter extravagante das pinturas em questão.
Vitrúvio, o arquiteto romano, autor do tratado De architetura, já havia deixado o documento mais importante sobre o impacto dos grotescos da Domus Aurea na época em que estes foram criados: “todos esses motivos, que se originam na realidade são hoje repudiados por uma moda iníqua. Pois aos retratos do mundo real prefere-se agora pintar monstros nas paredes. Em vez das colunas, pintam-se talos canelados, com folhas crespas e volutas; em vez de ornamentação dos tímpanos, brotam das raízes flores delicadas que se enrolam e desenrolam, sobre as quais assentam figurinhas sem o menor sentido. Finalmente os pedúnculos sustentam meias figuras, umas com a cabeça de homem, outras com a cabeça de animal […]” (Kayser, p. 18) Vitruvio continua acentuando as incongruências do estilo que fugia aos critérios clássicos de verdade natural e de verossimilhança, discussão que remonta a Platão, a Aristóteles, a Horácio, etc.
O clássico Rafael, que patrocinou a primeira tradução de Vitrúvio para o italiano, pôs-se a misturar o sublime cristão com os desenhos grotescos pagãos. Era uma posição insubordinada. Os motivos grotescos, sempre acessórios na sua obra, decoravam as margens e a pintura principal ocupava o centro. Rafael e seus discípulos ornamentaram assim as Loggie do Vaticano.
Grande difusão do grotesco dá-se no final do século XVI: os ornamentos cobrem fachadas de palácios, invadem a arquitetura. Nas gravuras temos sua permanente reprodução e também em outros campos: na cerâmica, na tapeçaria, nas artes “menores” em geral. Praticaram o grotesco, além dos artista já citados, Gaudenzio Ferrari, Signorelli, Filippino Lippi, Andrea di Cosimo, Giuliano da Sangallo e até mesmo Michelangello.
O grotesco permaneceu desse modo, um estilo marginal, por excelência que não ocupa as páginas das histórias da arte. Entretanto ele causaria uma apaixonada polêmica nos séculos à frente.
A Contra-Reforma tenta fazer calar a polêmica sobre o grotesco. Todavia, este, a partir da Itália, já penetrara em países transalpinos e conquista os domínios das artes plásticas e mesmo da imprensa. Fica estabelecida desde então a marginalidade do estilo grotesco em relação ao clássico que ocupa o centro. E também se fixam as características da sua representação: a monstruosidade, o informe, o híbrido (a mistura de domínios animal, humano e vegetal) e o fantasioso sem limites (que, por vezes, provoca o riso e que sempre tem caráter crítico).
Discussões à parte, o ornamento grotesco, de modo geral, se caracteriza pela criação de universos fantásticos - repletos de seres humanos e não-humanos, fundidos e deformados -, pelo apelo à fantasia e ao mundo dos sonhos e pela fabricação de outras formas de realidade. O trajeto da noção de grotesco no tempo retira dela o sentido técnico específico de um tipo de decoração romana tardia (e de um estilo renascentista nela inspirado), transformando-a freqüentemente em adjetivo, para designar o que é bizarro, fantástico, extravagante e caprichoso (Amador Outerelo Fernández Jr: O estilo grotesco).
A palavra inaugural do estilo grotesco surge a partir das escavações feitas em 1480, em Roma, no local onde hoje é o parque de Oppius. Ali, sob restos das termas de Trajano e das de Titus, descobriu-se nas ruínas da Domus Aurea (o palácio do imperador romano Nero, 58-64 aC, que o havia mandado construir após o grande incêncio que consumiu boa parte de Roma em 64 d.C.) uma espécie de pintura ornamental totalmente insólita em relação à imagem que se tinha do classicismo romano.
Nesses espaços subterrâneos reabertos depois de quase mil e quinhentos anos foram descobertas imagens, figuras, estátuas compostas de pessoas ou deidades metade gente e metade animal ou metade figura mítica.
Enquanto os estudiosos tentavam decifrar o quebra-cabeças desses escombros, os artistas do Renascimento se punham a descobrir os afrescos pintados principalmente pelo pintor Fabullus nas paredes da Domus Aurea. Desceram às grutas Gionani da Udine, Rafael, Pinturicchio e outros. Viram nos desenhos de Fabullus um novo vocabulário a ser adaptado ao ornamento. A visita às grutas tornou-se uma verdadeira descida dantesca, em que um novo conhecimento se fazia a partir do estranho, devido ao caráter extravagante das pinturas em questão.
Vitrúvio, o arquiteto romano, autor do tratado De architetura, já havia deixado o documento mais importante sobre o impacto dos grotescos da Domus Aurea na época em que estes foram criados: “todos esses motivos, que se originam na realidade são hoje repudiados por uma moda iníqua. Pois aos retratos do mundo real prefere-se agora pintar monstros nas paredes. Em vez das colunas, pintam-se talos canelados, com folhas crespas e volutas; em vez de ornamentação dos tímpanos, brotam das raízes flores delicadas que se enrolam e desenrolam, sobre as quais assentam figurinhas sem o menor sentido. Finalmente os pedúnculos sustentam meias figuras, umas com a cabeça de homem, outras com a cabeça de animal […]” (Kayser, p. 18) Vitruvio continua acentuando as incongruências do estilo que fugia aos critérios clássicos de verdade natural e de verossimilhança, discussão que remonta a Platão, a Aristóteles, a Horácio, etc.
O clássico Rafael, que patrocinou a primeira tradução de Vitrúvio para o italiano, pôs-se a misturar o sublime cristão com os desenhos grotescos pagãos. Era uma posição insubordinada. Os motivos grotescos, sempre acessórios na sua obra, decoravam as margens e a pintura principal ocupava o centro. Rafael e seus discípulos ornamentaram assim as Loggie do Vaticano.
Grande difusão do grotesco dá-se no final do século XVI: os ornamentos cobrem fachadas de palácios, invadem a arquitetura. Nas gravuras temos sua permanente reprodução e também em outros campos: na cerâmica, na tapeçaria, nas artes “menores” em geral. Praticaram o grotesco, além dos artista já citados, Gaudenzio Ferrari, Signorelli, Filippino Lippi, Andrea di Cosimo, Giuliano da Sangallo e até mesmo Michelangello.
O grotesco permaneceu desse modo, um estilo marginal, por excelência que não ocupa as páginas das histórias da arte. Entretanto ele causaria uma apaixonada polêmica nos séculos à frente.
A Contra-Reforma tenta fazer calar a polêmica sobre o grotesco. Todavia, este, a partir da Itália, já penetrara em países transalpinos e conquista os domínios das artes plásticas e mesmo da imprensa. Fica estabelecida desde então a marginalidade do estilo grotesco em relação ao clássico que ocupa o centro. E também se fixam as características da sua representação: a monstruosidade, o informe, o híbrido (a mistura de domínios animal, humano e vegetal) e o fantasioso sem limites (que, por vezes, provoca o riso e que sempre tem caráter crítico).
Discussões à parte, o ornamento grotesco, de modo geral, se caracteriza pela criação de universos fantásticos - repletos de seres humanos e não-humanos, fundidos e deformados -, pelo apelo à fantasia e ao mundo dos sonhos e pela fabricação de outras formas de realidade. O trajeto da noção de grotesco no tempo retira dela o sentido técnico específico de um tipo de decoração romana tardia (e de um estilo renascentista nela inspirado), transformando-a freqüentemente em adjetivo, para designar o que é bizarro, fantástico, extravagante e caprichoso (Amador Outerelo Fernández Jr: O estilo grotesco).